Para Profissionais

"Trabalho com tudo, menos com Dependência Química"

Raphael Mestres
Escrito por Raphael Mestres

Por que os profissionais de saúde usam tanto essa frase?

Tenho uma certeza! Nunca vou trabalhar com dependência química!

Quem falou essa frase fui eu mesmo.

E também ouvi isso de vários outros colegas, no último ano do curso de Psicologia.

O porquê exatamente eu não sei.

Na minha cabeça, atender dependência química era um trabalho que não dava resultado, sem significado, sem graça, sem a realização e o retorno que eu buscava.

Eu não poderia estar mais errado! Vou te contar essa história…

Como a gente tem pouco controle sobre os caminhos que vão se apresentar durante nossa trajetória, acabei me especializando justamente nessa área.

Que ironia do destino! Não é mesmo!?

Neste post vou te mostrar como trabalhar com dependência química pode trazer muita realização e sucesso, pessoal e profissional.

Vou te contar segredos que a experiência, os pacientes, suas famílias e os estudos me ensinaram e me fizeram ver outra realidade.

Ao terminar, você vai descobrir que existe um universo maravilhoso por trás do senso comum e dos preconceitos que poluem o trabalho com dependência química na mente dos profissionais não capacitados.

Você vai ver porque esse preconceito de muitos profissionais por aí torna esse trabalho pouco explorado e com muitas possibilidades!

Fazendo as coisas do jeito certo, você tem a chance de ajudar muitas pessoas, salvar vidas e ainda ter muita realização.

E MAIS! Você vai ver nesse post algumas sacadas que podem te colocar anos na frente de 90% dos profissionais que estão começando no ramo da DQ.

Vamos lá!?

O profissional tem que fazer o paciente parar de usar drogas!

Mentira! Primeiro preconceito pra você quebrar!

Esse preconceito é um dos principais combustíveis que alimentam a ideia de que trabalhar com dependência química é frustrante.

Há uns 2 anos, quando a família do Julio veio me procurar, me chamou a atenção a epopeia de profissionais pelos quais eles já tinham passado.

E os comentários sobre todos os profissionais era parecido:

“Meu filho não gostou dele”;

“A gente queria uma orientação, mas ficamos na mesma”;

“Ele até aceitou ir no dr. Fulano, mas continuou usando droga”;

“Estamos há 6 anos indo e voltando de profissionais e seguimos na estaca zero”.

Se você já trabalha com dependência, deve ter ouvido isso muitas vezes!

O problema é que, na grande maioria dos casos, quem quer ajuda é a família e não o dependente. E a família, consciente ou não, vai procurar todos os profissionais possíveis para que façam seu familiar (filho, marido…) parar de usar drogas. Para que tudo volte “ao normal”.

E quando o psicólogo, terapeuta ou psiquiatra não consegue atender as expectativas da família, ele se torna o alvo das críticas da família para o profissional seguinte.

frustração é certa quando o profissional aceita que ele deve fazer o dependente parar de usar drogas, pois isso nunca vai estar sob o controle dele.

Mas agora você já sabe! Não faça como muitos profissionais frustrados. Se alguém vier com essa responsabilidade pra cima de você, deixe bem claro o seu papel.

E qual é o seu papel? Vamos ver?

Quem faz o paciente parar de usar drogas é a família, não você!

Claro! Como não pensamos nisso antes?

Esse foi o “eureka” que tive discutindo um caso com o Nicácio, psicólogo parceiro e amigo.

Ele sempre trabalhou com atendimentos individuais em dependência química e estava vivendo justamente a frustração de ver seus pacientes estacionarem.

Os pacientes ficavam desengajados do processo terapêutico e ele ainda tinha que administrar a pressão das expectativas da família sobre o seu trabalho.

Os casos que evoluíam eram os raros casos em que o próprio dependente ia procurar a ajuda profissional dele.

Mas quando era a família que “empurrava” o dependente para a terapia, maioria esmagadora dos casos, o calvário se repetia.

Mas então tudo mudou!

A Peça que Faltava!

Já nessa época eu trabalhava orientando famílias para lidar com o dependente, e vivia uma frustração parecida.

A frustração, no meu caso, era por 2 motivos:

– Primeiro, não tinha nenhum profissional de confiança que fizesse uma avaliação decente do paciente dependente.

– Segundo, e muito mais difícil. Não tinha um profissional para encaminhar o dependente que considerasse todos os detalhes que um quadro de dependência química exige que sejam trabalhados na terapia.

Nessa conversa, chegamos à grande sacada que norteia nosso trabalho até hoje:

A família é quem pode fazer o dependente parar de usar drogas, através de uma orientação adequada de um terapeuta familiar especialista em dependência.

Enquanto os outros profissionais que trabalham com o dependente vão ajudar a elaborar e a superar a crise que vai acontecer quando a família dele fizer esse movimento.

Abandonamos o atendimento individual, alinhamos o método, pesquisamos, suamos a camisa e os resultados começaram a aparecer! Foi incrível.

Parece bem complexo, não é!?

Mas vou mostrar que você também pode conseguir resultados muito impressionantes!

Sem capacitação específica sobre o tema não dá! Nem tente!

Tanto eu quanto o Nicácio temos inúmeras histórias de fracassos desde quando começamos na área.

Obviamente, esse entendimento todo que comentei não foi de uma hora para outra.

Já fomos manipulados por pacientes, já entramos na codependência junto com as famílias, já demos orientações erradas, já acreditamos que estávamos dando show no tratamento e o paciente recaiu na sequência, já demos palestras sobre drogas achando que isso era prevenção.

Busquei me capacitar, como sugere a ética profissional, mas os cursos que fiz me falavam mais do mesmo e eu não conseguia conectá-los com minha prática.

Isso alimentou a ideia de que o trabalho com dependência química era frustrante mesmo.

No meio de toda essa frustração, acabei encontrando alguns profissionais fora da curva que me ensinaram muito e, por uma jogada do destino, consegui o mestrado em dependências que fiz em Buenos Aires. Não fosse por isso, eu não estaria realizado e com muito trabalho a fazer nessa área.

Então anote bem isso:

A formação em psiquiatria, psicologia ou qualquer outra não capacita ninguém para atuar em dependência química.

É como um clínico geral querer tratar câncer. Será um trabalho frustrante.

A dependência química é uma ciência à parte.

Ela é resultado da relação entre diferentes ciências.

Um pedaço da psiquiatria, um pedaço da psicologia, um pedaço da sociologia, um pedaço da química e talvez outros pedaços que ainda venhamos a conhecer.

Na Europa essa ciência já tem nome: Adictologia.

Nossos colegas do outro lado do Atlântico já se deram conta de que para atuar nesta área precisa estar respaldado por conhecimentos muito específicos.

Aqui muita gente ainda está improvisando… E infelizmente colocando em risco a saúde e bem estar de muitas famílias.

Não basta ser o melhor profissional do mundo

Mesmo que você saiba tudo de dependência química, tenha as melhores técnicas e estratégias e “saque” em um atendimento toda a necessidade do tratamento, você vai se sentir limitado.

Pela própria natureza da doença, não tem como um único profissional suprir todas as necessidades apresentadas por um quadro desses.

É inviável você realizar a orientação e a terapia familiar, lidar com as questões cognitivas e emocionais do dependente e ainda ministrar a medicação adequada para ele.

Muito menos realizar grupos terapêuticos com ele e outros dependentes e ainda cuidar de um eventual internamento.

Todas essas ações, ao mesmo tempo, podem ser necessárias para um tratamento de dependência química.

Você vai ficar bem limitado se não tiver colegas alinhados conceitualmente com você para trabalharem em conjunto, suprindo as diferentes necessidades que apareçam.

Mais um motivo de frustração que leva os profissionais a fugirem da área: “mesmo que eu me capacite, ainda preciso de outros que também estejam capacitados para o meu trabalho funcionar”.

Pois é. O lado ruim é que é difícil.

E o lado bom, digo, ótimo, é que quando você consegue, além de aprender muito e muito rápido com seus colegas, você ainda tem uma fonte de encaminhamentos enorme, pois qualquer um da sua equipe que receba uma família ou um paciente, vai precisar te encaminhar para que você faça a sua parte.

É ganha-ganha!

É por isso também que eu e o Nicácio estamos tão focados em formar um grupo de profissionais surpreendente aqui em Curitiba e região.

Um  núcleo de profissionais alinhados e capacitados para tratamento de dependência, que vai conseguir resultados marcantes. Mas isso eu comento melhor outra hora.

Agora vou dar uma dica que parece boba, mas fez toda a diferença.

A voz da experiência…

Uma hora você vai precisar…

Orientar a família sobre o que fazer quando um exame toxicológico dá positivo.

Orientar o paciente sobre como se conduzir quando estiver sozinho e em um possível risco.

Saber se é produtivo ou contraprodutivo a presença ou não do paciente junto com a família nos atendimentos.

Saber como e quando é o momento de entrar em questões emocionais mais profundas com o paciente.

Identificar quando a família, sem perceber, vai sabotar o processo de recuperação do paciente.

Saber quando falar e quando não falar sobre o consumo de droga com o paciente.

Esses são exemplos de coisas que não se aprendem em livros. Coisas fundamentais para o sucesso de um tratamento que só a prática orientada vai trazer.

Não adianta! Tem coisas que você só vai aprender com outros profissionais mais experientes. Não aqueles que só ouviram falar, mas pessoas que já viveram na pele essas situações.

Mas os cursos e capacitações sobre dependência química não ensinam essas coisas!

É verdade.

Como a Adictologia é uma ciência-bebê e mal a consideramos como ciência por aqui, tanto que  esse nome até nos causa estranheza, nosso panorama é o seguinte:

Temos à disposição, para nos capacitar, cursos superficiais, teóricos e repletos de ideologias ao invés de ciência.

Cursos em que a maioria dos professores até possui mestrado e doutorado, mas não específicos na área.

Cursos em que os professores não atuam profissionalmente com o tratamento da dependência.

Cursos cujas disciplinas possuem títulos bonitos, mas conteúdos irrelevantes.

Cursos que não conseguem conciliar uma matéria com a outra, inexistindo continuidade entre os módulos.

Cursos que não conseguem fazer justamente o que precisamos fazer em um tratamento, que é ter disciplinas que se conversam, se complementam e atuam conjuntamente na direção de um mesmo objetivo.

A coisa está feia!

Mas tem saída?

Nós lutamos por isso.

Queremos e vamos concretizar um ideal que nos persegue nessa área.

Vamos formar um núcleo de profissionais de referência no tratamento da dependência química em Curitiba. Aquele grupo que comentei com você!

Eu e o Nicácio, através do Instituto Frontale, coordenamos a Pós-Graduação em Dependência Química da Universidade Positivo nos anos de 2019-2020.

Trouxemos os profissionais mais gabaritados do país para contribuir com a formação dos alunos.

Acompanhamos tudo presencialmente, para garantir o diálogo e a continuidade das matérias.

Foi uma abordagem bem diferente e prática. Porque queremos fazer de tudo para que mais profissionais encontrem realização nesta área e nos ajudem a dar conta, com excelência, da enorme demanda de tratamento que existe.

Agora, estamos investindo em montar nossos cursos independentes, com um caráter mais específico para cada necessidade de atuação no tratamento da dependência química.

Queremos muito que você, que lê sobre o assunto, se interessa e não está apenas improvisando, como algumas pessoas, faça parte desse movimento com a gente.

Se você gostou da ideia, deixe seu email aqui para receber conteúdos de primeira e as atualizações sobre nossos cursos.

Faça parte do grupo que tem acesso aos melhores conteúdos na área

Conteúdos exclusivos sobre Dependência Química!

Conclusão – Leve pra casa

Você descobriu neste post por que a maioria dos profissionais que trabalham com Atendimento Individual acabam não tendo sucesso.

Só de saber disso, você já está bem na frente de muita gente que vai usar terapias pouco eficientes e ainda vai se frustrar muito.

Também ficou bem claro porque tanta gente tem um preconceito enorme com essa área e até bate na madeira quando falam em trabalhar com isso.

Deu para perceber que a demanda é enorme e o mercado de trabalho está sedento por profissionais que dêem conta dos casos de Dependência Química.

E o maior obstáculo para fazer um bom trabalho, que é construir uma rede de profissionais parceiros, está dado de bandeja para você, pois esse é nosso objetivo com a pós!

Se você se interessa e quer fazer parte do grupo de elite que estamos formando, não deixe de entrar em contato com a gente.

Eu vou continuar trazendo conteúdo bem especial e prático pra você que quer se especializar em Tratamento e Prevenção de Dependência Química. Ou, agora que você sabe! Adictologia.

Quero também saber o que achou desse post. Conte pra mim aqui embaixo nos comentários. Eu vou adorar saber!

Abraços

Raphael Mestres

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One Reply to ““Trabalho com tudo, menos com Dependência Química””

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Mauricio Moraes

Texto excelente!
Dá vontade de aprender mais sobre o assunto. Parabéns Raphael. Está muito claro e dá pra ver que existem muitas crenças limitantes em algumas pessoas que trabalham com dependência.
Obrigado por deixar mais claro.