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Salvador Minuchin - o que todo terapeuta deveria saber sobre este maestro da terapia familiar

Raphael Mestres
Escrito por Raphael Mestres

Se você é terapeuta, conhecer Salvador Minuchin, criador da terapia familiar estrutural, vai revolucionar a forma como você vê seu trabalho.

Se não é, conhecê-lo vai abrir os horizontes do que você entende por terapia.

Neste texto, você vai conhecer o homem que revolucionou a Psicologia com sua forma de pensar e sua habilidade com famílias.

Ao terminar de ler, você vai:

  • Saber como Salvador Minuchin virou de ponta cabeça os principais paradigmas da Psicologia;
  • Se tornar mais eficaz no seu trabalho terapêutico com os elementos centrais do modelo criado por ele;
  • Conhecer as principais dicas que ele dava para os terapeutas em formação

Ao final, depois de você conhecer as ideias de Salvador Minuchin, vou contar um pouco da vida dele.

E você vai ver, pelo exemplo que ele deu, o quanto nosso verdadeiro caminho está relacionado com nossa história. Só precisamos de coragem para segui-lo.

São coisas sobre ele que você não vai encontrar na literatura, pois vêm de trechos de entrevistas, textos informais escritos por ele mesmo e relatos de colegas e amigos.

Tudo mastigadinho para você apenas degustar… aproveite

A Revolução dentro da Psicologia

O caminhar dos estudos sobre saúde mental tiveram durante toda a história uma fascinação pela dinâmica individual.

Os transtornos mentais sempre foram estudados em termos de elementos internos e individuais.

A grande revolução da terapia familiar foi a ideia de que a patologia não está apenas dentro do indivíduo. Mas está também:

  • Na sua família e
  • Na relação entre o indivíduo e a família.

A partir de seu trabalho com crianças com diabetes, asma e anorexia, Minuchin disse acreditar que essas doenças serviam como uma espécie de cola que mantinha a família junta, ao tirar a atenção dos conflitos entre os pais.

E que não tratar esses conflitos era um obstáculo para a melhora do paciente.

Ele descreveu a estrutura disfuncional das famílias dessas crianças, portadoras de distúrbios psicossomáticos, no livro Famílias Psicossomáticas (tradução livre), nos anos 70, obra que marcou sua carreira.

Uma grande conquista de Salvador Minuchin e seus colegas foi aumentar em 26% o sucesso do tratamento de pacientes com anorexia ao incluir as famílias nele.

Durante sua experiência, Minuchin, como médico, buscou mapear a estrutura das famílias, assim como na medicina ele havia estudado a estrutura dos órgãos.

E ele descreveu dois principais elementos que formam essa estrutura.

  • Subsistemas
  • Fronteiras

Subsistemas são como territórios. O território dos pais, o território dos filhos, o território do casal.

Enquanto fronteiras são o limite que existe entre um território e outro. São as regras que definem quem participa de um subsistema e como.

As principais disfunções nas famílias, na perspectiva de Minuchin, estão relacionados a problemas de fronteiras entre os subsistemas.

Alguns exemplos desses problemas seriam quando:

  • A mãe se alia ao filho e exclui o pai (a mãe sai do território do casal)
  • Os sogros interferem no casamento (pais do cônjuge entram no território do casal)
  • O filho toma decisões que deveriam ser dos pais (filho entra em território paterno).

Fronteiras muito rígidas são um problema, pois não permitem a troca e interação.

E fronteiras muito frouxas também, pois vira terra de ninguém.

O desafio é manter as fronteiras bem definidas.

Minuchin observou dois padrões comuns nas famílias perturbadas: algumas são emaranhadas (fronteiras inexistentes) e outras desligadas (fronteiras muito rígidas).

As emaranhadas são caóticas, enquanto possuem ligações muito fortes entre os membros.

As desligadas são isoladas e, por isso, aparentemente não-relacionadas.

Pais emaranhados estão tão enredados com os filhos que não conseguem exercer liderança e controle.

Pais desligados estão distantes demais para fornecer apoio e orientação efetivos.

E esses padrões geram e/ou alimentam os sintomas dos quais os pais se queixam.

Complementaridade – Como Salvador Minuchin acreditava que as pessoas mudam

“Eu não acredito que as histórias mudem as pessoas. As histórias da minha infância permanecem as mesmas. Eu acho que o que muda as pessoas são as relações.”

Essa ideia deu origem a um dos principais elementos de pensamento de Minuchin. O de complementaridade.

“Estou sempre operando com a ideia de ying e yang, com a ideia de complementaridade. Se eu falo para o Ying mudar o Yang, isso só é possível se mudando o Ying. É uma unidade.”

Se alguém dizia a ele que queria mudar a si mesmo, ele retrucava:

“É impossível. Você não pode mudar você mesmo. Mas você pode mudar ele e talvez possa pedir ao seu cônjuge para te mudar”.

Isso transforma completamente o tipo de pergunta que se faz no contexto terapêutico.

Não é “o que você pode fazer para mudar a si mesma?” mas sim “o que você pode fazer para mudá-lo?”.

Só que para que consiga mudar o outro, você vai precisar fazer algo diferente e talvez para isso precise mudar algo de você.

Por exemplo, quando a esposa se queixa que o marido não a ouve, as perguntas são:

Como você pode fazer seu marido te ouvir mais? 

De que forma hoje você faz com que ele não te ouça?

As respostas poderiam ser:

Bom, ele se queixa que eu só reclamo e critico ele.

Talvez, se eu pudesse falar um pouco sobre as coisas que admiro nele e que me fizeram escolhê-lo como parceiro, quem sabe ele me ouvisse daí.

Se chega uma família com um marido deprimido, a pergunta é “quem mais te deprime na sua casa?”, “de que forma isso acontece?”.

Um filho que não consegue amadurecer, a pergunta da complementaridade seria “de que forma teus pais te deixam tão pequeno assim?”

Nunca com uma ideia de culpar, mas de mapear as relações, para encontrar de que forma as relações podem mudar e, então, transformar o sintoma.

A premissa dele era revolucionária:

Você não precisa mudar seus sentimentos para depois mudar seus comportamentos.

Se as pessoas mudam a forma como se relacionam com as outras, seus sentimentos também mudarão.

Partindo desse conceito, o trabalho com famílias e casais é como um jogo de sinuca – você nunca vai direto na bola que quer encaçapar.

O que Minuchin falava sobre um bom terapeuta de família

Uma coisa que Salvador Minuchin sempre ensinou aos alunos é que o terapeuta é ele mesmo um instrumento.

“Algumas vezes sou irritante, algumas vezes brabo, algumas vezes expansivo. O que eu sentir que é importante para aquela família. Sou um instrumento da teoria.”

O treinamento tradicional de terapeutas os ensinam a pensar sobre o que fazem com seus clientes.

Minuchin falava que deveriam ensiná-los a pensar sobre quem eles são naquela sala com seus clientes.

A imagem que Minuchin usava para descrever esse tipo de autoconsciência é a de um terapeuta com uma espécie de homúnculo no seu ombro esquerdo.

Esse homúnculo fica observando o processo mental do terapeuta e fica envolvido em diálogos silenciosos com o terapeuta enquanto ele trabalha.

Ele deve estar o tempo todo falando no ouvido do terapeuta o que está observando.

Isso permite o terapeuta estar dentro do sistema e ao mesmo tempo estar fora. 

Permite que ele saiba o que está fazendo e por quê.

Eis uma metáfora que Minuchin usava sobre o terapeuta de família:

A serra, formão, martelo e prego são todos meios de transformar o que um carpinteiro vê naquilo que ele quer que se torne.

O bom terapeuta de família também usa técnicas como meios para um fim e não como um fim em si mesmas.

Isso é importante, pois ao contrário de muitas linhas teóricas, a terapia sistêmica é repleta de técnicas e recursos terapêuticos que são ensinados em cursos de formação.

Mas de nada servem se não forem usados para um fim que o terapeuta tem em mente, assim como as ferramentas do carpinteiro, que de nada servem se ele não souber o que quer construir.

São ferramentas que o terapeuta deve conhecer e saber por que usar. E não só sair usando para dizer que está fazendo algo.

Como ele enxergava a primeira sessão com uma família

Ele dizia que a meta da primeira sessão é fazer com que as pessoas cheguem com uma história e saiam com outra.

O terapeuta começa fazendo pressupostos.

São rápidos e normalmente estão incorretos.

Mas sempre começamos assim.

A elaboração dos pressupostos depende do conhecimento e experiências do terapeuta.

Por exemplo, vem uma família com um filho adicto. O terapeuta se pergunta:

Quais são as características mais comuns em famílias com um filho adicto?

São questões de:

  • Hierarquia,
  • Conflitos ocultos no casamento,
  • Superenvolvimento da mãe com o filho e a exclusão do pai,

Isso é genérico. É o meu pressuposto.

Eu vou procurar esses temas.

Temas como a mãe amar seu filho mais que seu marido ou os pais estarem reféns dos filhos.

Para isso, é importante saber como tirar a si mesmo do centro e fazer com que a família traga a forma natural de interação dela para que se apresentem a você.

Uma das coisas que ele fazia era dizer ao homem: “por que não fala com a sua esposa?”.

E quando o marido fala com a mulher, o terapeuta se afasta e a família começa a introduzir a coisa cotidiana, o elemento mais íntimo deles.

Minuchin dizia “e eu espero. Posso ficar uns 10 minutos aprendendo muito. Quando param eu digo ‘continuem, porque estou muito interessado.’”

E vou confirmando ou refutando os pressupostos iniciais.

No final, a família que chegou com a história de que o paciente é quem precisa mudar, sai com a história de que a solução depende da família toda. E com uma ideia da direção que precisam seguir.

E isso é transformador, pois renova a esperança da família e amplia muito os horizontes das possibilidades de trabalho do terapeuta.

O estilo de Salvador Minuchin como terapeuta

A história de Salvador Minuchin (que vou contar no final) o fez acreditar que somos “múltiplos eus”.

Que temos muito mais possibilidades do que apenas aquela com a qual estamos identificados naquele momento.

Essa ideia o levou a desenvolver uma terapia do desafio, em vez de uma abordagem mais gentil com as pessoas.

“Minha meta como terapeuta não era ser cuidadoso e empático, mas ser um intervencionista que criava incerteza nos clientes sobre quem eles eram e o que eles eram capazes de se tornar.”

O que ele fazia na terapia era, de alguma forma, dizer para as pessoas:

“Você está errado. Porque você é muito mais do que pensa.

Por que você insiste em fazer a mesma coisa, em ir pelos mesmos padrões que o mantém na prisão? 

A prisão às vezes é dourada e é muito difícil desafiar uma prisão dourada.

Ele entendia que os padrões que faziam alguém sofrer também davam um senso de segurança, proteção e harmonia.

Mas sabia também que esses padrões enganavam e faziam a pessoa acreditar que era a única maneira de ser.

Minuchin acreditava que precisa deixar as pessoas ansiosas para conseguir quebrar os padrões habituais.

“Me sinto responsável não apenas por criar a crise, mas por permanecer ali.”

E sempre mantinha a ideia de complementaridade em mente.

Sua terapia estava sempre evoluindo com a linguagem da ajuda, mas ajudar ao outro.

“Eu como terapeuta crio o movimento, mas eu uso o Ying para mudar o Yang.”

E sempre buscando identificar de que forma as pessoas são competentes.

Não se prendia nos defeitos e nas disfunções. Sabia que isso não iria motivar para a mudança.

Seu tratamento para garotas com anorexia, por exemplo, envolvia sentar com toda a família para almoçar e insistir para que os pais usassem todos os meios para que conseguissem que suas filhas comessem.

Então começaria o real trabalho da terapia familiar: explorar a dor emocional e conflitos subjacentes e alterar a forma como os membros da família se relacionavam.

O amadurecimento da terapia familiar

Durante um tempo, como sempre acontece nos movimentos revolucionários da história, o extremo oposto do que existia foi defendido.

Antes, acreditavam que tudo acontecia dentro do indivíduo.

Depois, veio o movimento da terapia familiar e disse que tudo era sobre a família.

A família foi literalmente culpada e acusada dos problemas que ocorriam em seus membros.

Mas o tempo trouxe amadurecimento natural do modelo e, hoje, ambos os terrenos, individual e familiar são considerados no entendimento da patologia.

Em entrevista, Minuchin, com idade já avançada fala:

“Envelheci. Hoje sou uma pessoa mais generosa do que antes. Hoje estou menos envolvido comigo mesmo do que antes.”

E a terapia familiar também conquistou essa maturidade.

No começo estava muito envolvida consigo mesma. Tudo era família. O indivíduo não existia.

Hoje está mais generosa e está menos envolvida consigo mesma. Está mais integrada.

Eis uma história que exemplifica bem essa maturidade:

Os médicos do hospital encaminharam para uma equipe de terapeutas uma garota dizendo que não encontravam razão para a perda de peso contínua dela.

Eles diziam que o problema deveria ser de ordem psicológica.

Os terapeutas familiares fizeram uma avaliação e viram que a família da garota não tinha os padrões característicos das famílias psicossomáticas, como por exemplo:

  • evitação de conflito, 
  • triangulação, 
  • superproteção
  • rigidez.

A equipe decidiu voltar aos médicos e dizer que era melhor investigar mais a fundo.

E os médicos fizeram isso.

Em uma investigação médica mais acurada encontraram que a garota na verdade estava com um tumor na pineal.

Sem a maturidade conquistada pela perspectiva familiar, provavelmente os terapeutas teriam perdido mais tempo até chegar na real causa do problema.

Um grande avanço da forma de pensar da terapia familiar.

Agora que você conheceu algumas das principais ideias de Salvador Minuchin, vale à pena conhecer a história dele e como seu estilo e suas inovações estão conectadas com suas vivências particulares.

Depois da história dele, vou listar para você as cinco principais lições que podemos tirar da vida e obra desse homem revolucionário.

A história do homem

Minuchin nasceu minoria.

Um judeu nascido na zona rural da Argentina.

Como ele mesmo dizia, ele sempre foi “o outro”, sempre foi “eles”.

Nunca fez parte do grupo dominante. Ele sentia que o rejeitavam. E ele mesmo se rejeitava por isso.

Ele diz que, quando se é minoria, nasce uma vontade de ser como os outros que é para a vida toda.

Mas, segundo ele, felizmente isso foi transformado em um grande óculos para as necessidades das minorias e na busca incessante pela justiça social.

Essa foi a tônica de seu trabalho ao longo da vida.

No Ensino Médio, em uma aula de psicologia, ouviu sobre as ideias de Rousseau de que os delinquentes são vítimas da sociedade.

Gostou e, após isso, resolveu que iria ajudar jovens delinquentes.

E aqui acontece a primeira conexão entre sua história e sua vocação – atenção nas minorias e busca pela justiça social.

Mas, seu foco em famílias, ele diz, começou muito antes, na sua origem…

Desde pequeno sempre esteve cercado de tios, tias e primos.

Nunca estava invisível. Sempre estava na vista de algum membro da família.

Com isso, desenvolveu o elemento central que marcou seu pensamento ao longo da vida:

O senso de que o indivíduo não deve ser entendido isoladamente.

A segunda grande conexão entre sua história e vocação.

Salvador Minuchin se formou em medicina na Argentina, onde também estudou pediatria.

Em 1950 foi para Nova York se especializar em psiquiatria infantil.

Era então pediatra e psiquiatra.

E, como ele diz em entrevistas, decidiu fazer o que todos os psiquiatras brilhantes da época faziam:

Se tornou psicanalista. Seis anos de estudos.

Foi então trabalhar em uma escola para jovens delinquentes do Harlem, o colégio Wiltwyck.

Esse colégio foi o berço do seu trabalho com famílias.

Ele conta que tinha uma secretária muito inteligente que digitava as avaliações dele.

E um dia ela disse:

“Sabe de uma coisa Dr. Minuchin? Eu digitei exatamente a mesma avaliação para esse garoto, um ano atrás.”

Uns segundos de absoluto silêncio e ele, franzindo o cenho, respondeu:

“Sabe o quê? Temos que fazer algo diferente. Vamos trazer as famílias desses jovens.”

Ele viu que o que aprendia na psicanálise e o que fazia com as crianças no Harlem eram duas coisas totalmente desconectadas.

Tinha duas opções: ou rejeitava a sua prática ou a psicanálise.

Rejeitou a psicanálise.

E começou a voltar a atenção para a importância da família nos sintomas das crianças.

E, apesar de chamarem as famílias das crianças, não sabiam ainda o que fazer com elas.

Então, começaram a atender as famílias em uma sala de espelho para que outros colegas e supervisores pudessem ajudar a identificar o que estavam fazendo e a construir o método.

Viram que nem os jovens e nem suas famílias respondiam bem a intervenções muito reflexivas e intelectuais.

Por isso, passaram a focar em aspectos objetivos de comunicação e comportamento.

Desenvolveram uma abordagem de terapia na qual o terapeuta é muito ativo, faz sugestões e direciona atividades.

Esta experiência foi a mãe de sua primeira obra: o livro “Trabalhando com famílias pobres” ou como mais conhecido em inglês “Families of the slums”.

Essa publicação fez com que ele fosse convidado, em 1965, a dirigir a Philadelphia Child Guidance Clinic, uma clínica de orientação infantil, na Filadélfia.

E, junto com outros grandes terapeutas de família (Braulio Montalvo, Bernice Rosman e Jay Haley), transformaram uma clínica tradicional de orientação infantil em um dos mais famosos centros do movimento de terapia familiar.

Braulio Montalvo, Salvador Minuchin e Jay Haley

Suas brilhantes demonstrações clínicas sempre deixaram as pessoas encantadas.

Era um artista com as famílias.

Falava inglês com um elegante sotaque latino e fazia as famílias mudarem usando o que fosse necessário.

Seduzia, provocava e desafiava as famílias sempre em prol delas mesmas.

Em 1981, Minuchin voltou para Nova York onde se dedicou a ensinar terapeutas familiares do mundo todo, no instituto que hoje se conhece como Minuchin Center for the Family.

Alguns relatos de seus alunos soam até um tanto excêntricos…

Esther Perel, uma de suas alunas que se tornou famosa, conta que ele invadia a sala dela enquanto estava no meio de um atendimento para compartilhar uma ideia que tinha tido.

Ela falava “Sal, estou no meio de um atendimento aqui…”, ele continuava mais uns instantes e então parecia se dar conta que estava interrompendo o atendimento. Se desculpava e saía.

Quinze minutos depois entrava de novo na sala para contar uma nova ideia que tinha tido.

Suas sessões não tinham tempo pré-definido.

Se precisasse passar horas com a família em uma sala, passava. Da mesma forma que, se precisasse pedir o almoço para a família durante a sessão, pedia.

Chegou a ser chamado de “terapista”, uma mistura de terapeuta com artista, pois mostrava um magnetismo e habilidade incríveis durante as sessões com as famílias.

Como vários dos grandes gênios que mudaram o rumo das coisas na história, ele não se limitava.

Sua origem familiar o ensinou a ocupar seu espaço e, na maturidade, também soube ocupar muito bem o seu espaço com a terapia familiar, onde reinava soberana a psicanálise.

Sua história o fez sentir compaixão pelas vítimas da sociedade e também lhe permitiu confrontá-las, para que encontrassem novas possibilidades.

Sua carreira em um país cujo idioma ele não falava o fez desenvolver a criatividade e usar, como um mestre, intervenções concretas e metáforas – sua marca registrada.

Como mostra a breve linha do tempo abaixo, Salvador Minuchin também aprendeu ao longo da vida que todos temos muitas possibilidades de eus, e usou isso sempre a favor de seus pacientes.

Até os 12 anos não havia conhecido ninguém que não fosse judeu.

Portanto, seu conceito sobre si era limitado. Uma criança judia protegida.

Aos 18 foi para a faculdade de medicina e seu mundo cresceu. Então passou a ver outras possibilidades de si mesmo.

Aos 20 e poucos foi preso por três meses junto com um grupo de estudantes por protestarem contra o então presidente argentino Juan Perón.

Se tornou, assim, um judeu argentino revolucionário e comprometido com a justiça social.

Com essa identidade se juntou ao exército israelita, ao qual serviu como médico durante a guerra pela independência.

Depois foi para EUA e se juntou à equipe do colégio Wiltwyck, para jovens delinquentes.

Lá sua identidade passou a ser a de um forasteiro, pois passou a ser alguém que não fazia parte daquela cultura.

Em um momento sentiu que começou a pertencer à equipe, às crianças e às famílias da escola. Então se sentiu expandir.

Foi uma criança judia protegida, um jovem rebelde, um revolucionário, um soldado, um imigrante desamparado que não falava o idioma, e muitas outras coisas.

Por isso, ficou convicto de que todas as pessoas têm muitas possibilidades de eus.

Minuchin marcou a história da psicologia não só pela sua arte com as famílias.

Mas, principalmente, pelo desenvolvimento do seu modelo teórico para trabalhar com famílias: a terapia familiar estrutural, que norteia inúmeros terapeutas hoje em suas práticas.

5 lições de Salvador Minuchin – para você gravar na memória

Se você chegou até aqui na leitura, é por que de alguma forma se identifica com as ideias e história de Salvador Minuchin.

Então, leve de presente essas cinco lições de impacto vindas desse grande maestro da terapia familiar:

  1. Essa história de que você só muda a si mesmo é balela. E que você precisa mudar seus sentimentos para depois mudar seus comportamentos também. Se as pessoas mudam a forma como se relacionam com as outras, seus sentimentos também mudarão.
    • Na prática, isso implica em uma linguagem de ajuda na terapia – um ajudar o outro a mudar.
    • E mostra quão importante é a presença da família no tratamento para melhores resultados
  2. Você pode pegar emprestado algumas coisas do estilo do Minuchin, mas precisa encaixar essas coisas em quem você é, com a sua história. Minuchin construiu seu estilo e forma de pensar a partir da própria história.
  3. Uma espécie de homúnculo no ombro do terapeuta, falando e discutindo com ele o que está fazendo com a família e por quê, é a meta do desenvolvimento de consciência do terapeuta
  4. Minuchin não estava lá para agradar seus pacientes, mas para ajudá-los. Tinha clareza do seu propósito, mesmo que isso gerasse incômodo nos outros.
  5. Ele não se limitava. Não se enquadrava. Fazia o que era necessário e não o convencionado. Sua mente era livre para ajudar as famílias da forma como elas precisavam, mesmo que de formas bastante não convencionais

E aí, gostou?

Agora que você sabe mais sobre Salvador Minuchin e suas ideias, eu adoraria saber o que você achou nos comentários!

E se souber algo interessante sobre ele ou se ele teve algum impacto importante em sua formação, também coloca lá que eu vou adorar saber!

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5 Replies to “Salvador Minuchin – o que todo terapeuta deveria saber sobre este maestro da terapia familiar”

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Inara Garagnani Antunes

Incrível a história de vida do Salvador Minuchin: com o sentimento de rejeitado pela familia usou seu favor e em prol dos outros pra fazer a justiça social. E na sua prática primeiro ele mudou seu comportamento para depois se sentir bem consigo mesmo.

Aprendi como lição: Antes de perguntar “De que forma eu posso mudar o outro?” Eu preciso me responder:
” O que eu posso fazer para mudar a mim mesmo?’

vivemos de relações, niguém muda sozinho, estamos aqui para um contribuir na mudança do outro!

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Mauba Tanha Ramos De Alencar

Gostei, muito interessante a história desse médico pediatra, psicanalista, parabéns pela matéria.

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Madalena

As transformações ao longo da vida dele é a parte mais marcante de sua historia pessoal, é possível, mudarmos conceitos quando se é livre de si mesmo!

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Ilza Pizaia

Tenho algumas obras dele e sou muito fã. Me identifiquei com seu método e estou fazendo formação em Terapia Familiar Sistêmica. Pretendo ser seguidora desta pessoa incrível.

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Jaqueline Kowalski

Muito interessante a história dele, me deixa muito esperançosa de que a mudança pode começar comigo na relação com o outro.