Quando existe a dependência química na família não sobra pedra sobre pedra
Ou tudo é destruído ou tudo se renova completamente.
Demorei para entender essa frase.
Ela quer dizer que não tem como ficar na mesma. Que é inviável não lidar com o problema, achar que vai se adaptando até passar.
Portanto, com o tempo, ou você vê a destruição completa ou vê a renovação completa.
Não tem meio termo.
Já vi muitas famílias serem esmagadas pela dependência química.
Na verdade, isso é até comum de ver, pois é o curso natural da doença.
No entanto, a outra possibilidade é a mais incrível.
E só entendi pra valer essa possibilidade quando ouvi o real significado disso da boca de duas mulheres que viveram na pele o que estou tentando dizer aqui.
Uma delas era mãe de adicto e a outra era esposa de alcoolista.
A frase mais incrível que ouvi de familiares de dependentes químicos
Essa mãe de adicto, hoje, é coordenadora de um grupo de Amor Exigente e a esposa do alcoólico é coordenadora de um grupo de Al-Anon.
Elas foram convidadas para um evento sobre grupos de mútua-ajuda.
Primeiro, explicaram sobre o funcionamento dos grupos (que eu particularmente sou fã e admiro muito a filosofia de ambos) e, depois, contaram um pouco de suas histórias particulares.
No final do evento, durante a discussão com o público, pediram para que elas falassem mais sobre sua experiência pessoal.
E as duas falaram uma frase que calou fundo dentro de mim. E, acredito, que do público todo.
Uma frase que me deixou meio atordoado até.
Hoje eu penso que não acreditaria nisso se não tivesse ouvido da boca delas.
As duas disseram o seguinte:
“Hoje eu agradeço pela dependência química do meu filho” e “Hoje eu agradeço pelo alcoolismo do meu marido”.
Elas falaram, depois de contar toda a tragédia que viveram, que agradeciam ter passado por aquilo.
E a pergunta que ficou no ar: Como alguém pode agradecer por viver uma desgraça como a adicção e o alcoolismo em entes queridos?
E aqui voltamos a ideia de que não sobra pedra sobre pedra. E uma das possibilidades é a renovação completa, pela qual não tem como não sentir gratidão.
Como as famílias chegam a esse ponto? É possível?
As famílias que chegam ao ponto de agradecer a dependência química são aquelas que conseguiram vivenciar um processo de transformação, de renovação completa.
São as famílias que resistiram às provas do tempo e mantiveram a persistência apesar de todos os obstáculos.
Que buscaram conhecimentos, apoio, ajuda profissional e tudo o mais que estava ao seu alcance.
Famílias que tiveram coragem de agir, de mudar a si mesmas e de se renovar.
Ou seja, são as famílias que não foram para o caminho da destruição e conseguiram enxergar e vivenciar a oportunidade na crise. Descobriram como crescer com o caos.
Aqueles pais e mães que aprenderam e melhoraram tanto como pessoas ao longo do tratamento do filho, que olhando para trás, viram na doença uma oportunidade inigualável de crescimento.
Sim, eu sei que é difícil de acreditar e, se eu não tivesse visto e ouvido com meus próprios olhos e ouvidos essas famílias, talvez não acreditasse também.
E entendo que você pense de imediato:
“Rá… ok, até pode ser, mas não é para mim… impossível eu chegar a um ponto como esse”
E, claro, esse é o principal obstáculo para todas as famílias – duvidar da própria capacidade de gerar uma grande transformação. Duvidar do próprio potencial.
Você fez a dinâmica do barbante que eu propus no texto sobre a palavra mágica do tratamento?
Ela é uma boa metáfora para isso.
Quando não temos nenhuma experiência de potencial em uma área, tendemos a subestimar a nossa capacidade.
Se você foi como eu nessa dinâmica, provavelmente você conseguiu dar muito mais nós com a mão esquerda no barbante do que você tinha imaginado que conseguiria.
E a única coisa necessária para isso foi a iniciativa de tentar.
Você é incapaz de prever até onde você pode chegar em uma área desconhecida
Então, não adianta querer fazer previsões agora de onde é possível você chegar como pai ou mãe. E basear suas ações nessas previsões.
A previsão de quem não sentiu ainda seu potencial é de que não têm como dar certo.
Mas, acredite em mim…
Precisa dar o primeiro passo. Precisa acreditar que têm um caminho a ser trilhado.
E que, se os pais têm a persistência de trilhar esse caminho e de superar os obstáculos que vão surgir, a perspectiva muda.
O que eu quero dizer é que esses pensamentos como:
“Com meu filho não funciona… já tentei de tudo… sei do que estou falando…”
“Enquanto ele mesmo não quiser se tratar, não adianta eu fazer nada… vai por mim…”
“É capaz de, se eu tentar fazer alguma coisa, vai acabar piorando tudo… talvez seja melhor deixar como está”
São os pensamentos comuns da doença.
TODOS os pais que vivem esse problema ou já tiveram ou vão ter esses pensamentos em algum momento.
Em outras palavras, eles são sintomas da doença.
Portanto, o seu primeiro desafio é poder duvidar desses pensamentos.
É abrir a possibilidade de que talvez funcione. Que talvez, você realmente tenha mais poder do que percebe hoje.
Talvez… pelo menos coloque a dúvida nesses pensamentos.
O mais importante é dar o primeiro passo
É preciso duvidar desses pensamentos para que você possa dar o primeiro passo. Entrar no caminho. Um caminho que se constrói caminhando.
Como aquela imagem do filme do Indiana Jones… a ponte só aparece sob o pé dele depois que ele dá o passo olhando para o abismo.
Os pais que têm a coragem de dar seu primeiro passo e se debruçam nesse caminho não ficam mais reféns do uso de drogas do filho.
Eles sabem:
- Como lidar com o problema
- O que fazer quando o filho está usando
- O que fazer quando ele recai
Além disso, eles:
- Não permitem que a crise fique com eles
- Saem completamente do papel de codependentes
- Passam a perceber e a cuidar de detalhes antes invisíveis para eles
Ontem mesmo conversei com uma mãe que sempre duvidou de quando eu falava que ela tinha mais poder do que imaginava sobre o problema.
Ela finalmente sentiu isso que eu dizia.
Percebeu que uma mudança de atitude sua (depois de muito conhecimento e um breve tempo de terapia) levou a uma mudança radical de atitude do filho.
Ela também aprendeu a usar, da sua forma, a palavra mágica do tratamento.
Finalmente, perguntei para ela: que tal sentir isso?
E ela me deu uma resposta que me marcou e que nunca tinha ouvido:
“É bom. Agora eu entendo o que você me falava lá no começo. Eu consigo perceber está nas minhas mãos, que é o necessário e que é a única forma de eu ajudar realmente meu filho. Mas ao mesmo tempo é como se fosse um luto… um luto das expectativas que eu tinha sobre meu filho e um luto de um papel que eu sempre desempenhei, sem perceber que não estava ajudando em nada. Sinto que essa é a tristeza certa de se sentir e não aquela outra misturada com desespero que eu sentia”.
Essa já é uma segunda etapa. Muito bonita também, mas não quero te assustar com os passos seguintes.
Só posso te garantir que, mesmo com todas as dificuldades inerentes a esse processo, a satisfação que esses pais sentem é enorme e eles nunca puderam imaginar que sentiriam isso em algum momento.
Uma possiblidade de primeiro passo
Eu quero deixar registrada aqui uma oferta.
No início da pandemia, eu fui basicamente empurrado para o mundo digital, que nunca tinha sido muito minha praia.
Com isso, resolvi juntar todas as principais orientações e conhecimentos que eu trabalhava com os pais no consultório.
Revi inúmeros casos dos últimos anos e observei elementos comuns para todos eles. E transformei tudo isso em um curso online.
Um curso que é como se fossem sessões particulares de orientação para pais que vieram buscando ajuda para tratar seu filho.
Coisas que eu falo para basicamente todos os pais que vem buscar atendimento.
É o que os pais precisam ter em mente para chegar ao ponto de resolver o problema e, quem sabe, para os que realmente têm persistência, até conseguir agradecer, como aquelas duas coordenadoras dos grupos de mútua ajuda que citei.
E nos últimos meses ainda pude fazer várias melhorias no curso a partir do feedback dos pais que estão fazendo ele.
Você pode conhecer os detalhes do curso clicando nesse link aqui. Ele vai te direcionar para uma página com toda a explicação sobre o curso, seus conteúdos, bônus e valores.
Garanto que esse é um primeiro passo consistente.
Até breve!
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