Para Pais

A Palavra Mágica que faz o tratamento para Dependência Química acontecer

Raphael Mestres
Escrito por Raphael Mestres

Quando os pais aprendem como usar essa palavra sobra pouco espaço para a dependência química

Recentemente, uma família começou a fazer acompanhamento comigo querendo resolver o uso de drogas do filho e o pai sempre queria uma resposta objetiva e resultados rápidos.

Como eu sempre digo, cada caso é um caso e cada história é única. Não existe uma solução padrão que funcione para todo mundo.

Mas também, é preciso dizer que existem fatores em comum que acabam servindo para quase todas as famílias.

Um desses fatores é o poder da família para fazer o tratamento acontecer.

Acontece que esse pai dava a entender que a terapia não estava funcionando, pois o filho continuava usando drogas.

Antes de continuar essa história, deixa eu te contar o que estava acontecendo com o filho deles e com a família…

O filho estava usando drogas com um grupo de amigos novos que ele fez.

Estava totalmente descomprometido com a escola ou com seu futuro.

Só queria saber de sair, beber, fumar maconha e, eventualmente, experimentar algumas “coisas” diferentes.

Os pais, além da mesada, também davam algum dinheiro extra quando ele pedia, seja para dividir um churrasco com os amigos ou pagar alguma dívida.

Sempre que o filho pedia, lhe davam carona para lá e para cá, e ficavam muito preocupados se ele estava saindo bem agasalhado e se tinha se alimentado para não correr o risco de uma hipoglicemia.

Sem falar que ele gostava de usar só roupas de marca e tratava os pais como se fossem seus serviçais.

Nesse caso, era um clássico menino mimado.

E o pai queria uma solução para o problema logo. Como fazer o filho parar de usar drogas?

Conectando dois pontos (que não vou aprofundar aqui):

  • Funcionamento psíquico do dependente químico
  • Dinâmica familiar na dependência química

E movido pela necessidade de algo simples e certeiro para oferecer a esse pai…

Cheguei a uma palavra mágica que, se bem empregada, faz acontecer de verdade o tratamento para os problemas com drogas.

Uma palavra mágica que faz todo o sentido se considerarmos a psicologia do dependente químico e a dinâmica familiar na dependência química.

E essa palavra mágica é: NÃO.

Se for pensar bem, toda estrutura de tratamento para dependência química (clínicas, estratégias terapêuticas, grupos) está sustentada por essa palavra.

O “não” é o limite que o dependente químico nunca encontrou e que o tratamento vai trabalhar para instalar na mente e no contexto dele.

Considerando isso, é importante ressaltar que a dependência química é a ausência dessa palavra. A ausência do “não”.

Como assim, a ausência do “não”?

Nem o dependente, nem a família dispõem dessa palavra. Até conhecem ela enquanto palavra, mas não a vivenciam.

O dependente até consegue falar “não”, mas é incapaz de executar o não, seja para:

  • a droga
  • seus amigos
  • si mesmo

E a família também adora falar “não”, mas não consegue acompanhá-lo com ações. Seja para:

  • dinheiro
  • favores (caronas, lanchinhos, mimos)
  • e, principalmente, para a droga (vivem falando não, mas a droga segue presente em casa e não conseguem fazer nada a respeito disso)

E eu ensinei essa palavra mágica para o pai…

Enfim, quando cheguei a essa palavra – que traduzia de forma muito simples um conceito chave do tratamento – eu fui ensiná-la ao pai.

E junto a ela, eu acrescentei um complemento que era:

“Não. Até que… você pare de usar drogas”.

E vimos que isso poderia ser usado para tudo aquilo que o filho pedia.

Com a finalidade, como diz a filosofia do Amor Exigente, de eliminar o acesso dele aos recursos familiares enquanto sua escolha for usar drogas.

Acho que naquela conversa o pai entendeu qual era o seu papel no tratamento.

Digo isso porque, se mostrando comprometido com seu desejo de resolver logo o problema, ele começou a usar a palavra.

No entanto, já nas primeiras tentativas, aprendeu outra lição importante:

O filho dependente químico não escuta palavras, ele escuta ações

Pois ele estava dizendo “não”, mas não estava adiantando…

Pois a persistência do filho conseguia transformar aquele não em um sim com reclamação, se é que você me entende.

“Ok, eu vou te levar lá agora, mas quero que você saiba que eu não vou mais fazer isso enquanto você estiver usando drogas, blá-blá blá… está bem?!”

Algo assim, sabe?

Então não era uma questão de falar “não” apenas, mas de corresponder o não falado com ações.

– Pai, me leva na casa do fulano?

– Não. Até que você pare de usar…

– Mãe, me dá dinheiro para eu pagar um amigo que me empresou?

– Não. Até que você pare de usar…

Eu queria o carro emprestado para sair com uma menina, posso pegar?

Não. Até que você pare de usar…

E com todo o sofrimento que tiveram de “privar o filho de coisas que eles podiam dar”, sustentaram essa postura.

No começo, o filho ameaçou uma piora.

Inclusive, passou uns dias na casa de um amigo sem dar muita notícia, e chegou a ameaçar os pais que daquela forma que eles iam perder ele de vez e que assim ele iria usar drogas para valer.

Mas os pais mantiveram essa postura firme.

Dessa forma, não deu duas semanas, ele veio falar com os pais aceitando fazer exames toxicológicos para provar que não estava usando mais.

Em outras palavras, os pais deixaram de se adaptar a ele para que ele pudesse se adaptar aos pais.

E aqui a possibilidade de tratamento realmente começou. Ele escutou a ação dos pais.

Chegar no ponto de encarnar a palavra mágica – NÃO – é a expressão máxima do poder dos pais no tratamento

Lembra dos dois casos que contei no texto sobre o poder da família, que fizeram eu querer trabalhar com dependência química?

Em ambos, os pais conseguiram encarnar o NÃO. E foi o que fez a diferença para o rumo das coisas.

Eu sei que muitos pais vão ouvir isso e vão pensar…

  • Ah… é porque ele não conhece meu filho… com ele não funciona assim
  • Eu falo não para ele… mas não adianta, ele faz de qualquer jeito
  • Se eu começar a apertar muito, tenho certeza que as coisas vão piorar ainda mais… bacana esse negócio de palavra mágica, mas acho muito arriscado

Esses pensamentos só existem porque os pais desconhecem e não acreditam no poder que eles têm sobre a situação.

E ok. Isso é natural.

Mas, como eu sempre falo: para ter poder é preciso saber.

Sem o conhecimento, os pais não vão conseguir descobrir e saber como usar o seu poder.

Quando os pais começam a entender, a se capacitar, e sentem pela primeira vez o gostinho desse poder, aí se abre um novo mundo de possibilidades.

Muitos pais começaram esse caminho pelo Curso Filhos Sem Drogas.

A esperança, que era uma faísca, vira fogo. O caminho rumo a uma solução começa a aparecer.

E aposto minhas fichas que a absoluta maioria dos pais nem sabe que existe esse tipo de conhecimento que pode mudar a vida deles.

Pior… duvidam do conhecimento e de si mesmos.

Sobre duvidar do conhecimento, o que eu posso falar é que eu vivo isso no dia a dia e vejo inúmeras famílias se capacitando e virando o jogo do uso de drogas do filho.

Como gosto de pensar, é uma questão de capacitação e persistência.

Sobre duvidar de si mesmos, lembrei de uma dinâmica que fizeram comigo há muito tempo e quero propor ela para você.

Dinâmica do barbante

Pegue um pedaço de barbante de 50 cm mais ou menos.

A pergunta é a seguinte: quantos nós você acha que é capaz de dar nesse barbante usando apenas a mão esquerda (se você for destro) no intervalo de 1 minuto? Anota.

Depois, você vai marcar 1 minuto e vai começar a fazer os nós.

Daí você me conta nos comentários qual foi o seu resultado comparado com a sua estimativa inicial. 😉

E, depois, venha ler esse texto aqui, que vamos falar sobre o resultado.

Boa sorte!

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